A tentativa de Donald Trump de “salvar” a hegemonia americana diante do avanço de blocos como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, e outros países interessados em aderir) reflete mais um movimento de desespero político-ideológico do que uma estratégia realista de reestruturação geopolítica. A seguir, apresento uma análise crítica dividida em pontos principais:
1. O medo da ascensão dos BRICS e a ameaça à hegemonia dos EUA
Trump e setores nacionalistas dos EUA veem o fortalecimento dos BRICS como uma ameaça direta à ordem unipolar liderada pelos americanos desde o fim da Guerra Fria.
Desdolarização: Os BRICS estão buscando alternativas ao dólar nas transações internacionais, o que enfraquece o poder financeiro dos EUA.
Influência geopolítica: Países como China e Rússia desafiam os EUA em várias frentes — comércio, tecnologia, alianças militares e diplomacia global.
Expansão dos BRICS: A adesão de novos países ao bloco sinaliza uma coalizão alternativa de poder, mais voltada ao Sul Global e à multipolaridade.
O “desespero” de Trump vem da percepção de que a supremacia americana não é mais garantida nem no campo econômico, nem no ideológico.
2. Estratégias de Trump: protecionismo, taxação e imigração
a) Tarifas e guerra comercial
Trump usou amplamente tarifas sobre produtos da China, União Europeia, Canadá e outros países — uma medida criticada inclusive por economistas conservadores nos EUA:
Aumenta o custo de insumos para indústrias americanas.
Reverte benefícios da globalização que os EUA ajudaram a construir.
Provoca retaliações e isola os EUA de mercados-chave.
Economistas como Paul Krugman e Larry Summers apontaram que essas políticas, ao invés de fortalecer a economia americana, criam distorções e aumentam a inflação.
b) Política anti-imigração
Trump impulsionou um discurso agressivo contra imigrantes, propondo:
-Construção de muros.
-Restrições severas a vistos.
-Deportações em massa.
No entanto, a economia americana depende da imigração — especialmente em setores como agricultura, tecnologia, saúde e construção.
Empresários e analistas alertam que restringir o fluxo migratório compromete o dinamismo econômico e gera escassez de mão de obra.
MAGA: Política de Bruxaria
c) America First: isolacionismo disfuncional
Trump tenta reviver um nacionalismo econômico anacrônico, desconectado da realidade interdependente do século XXI. Isso:
Enfraquece alianças tradicionais (como OTAN, G7).
Reduz a influência americana em fóruns multilaterais.
Deixa espaço para a China e Rússia ocuparem esse vácuo.
3. Táticas perigosas: populismo econômico e desinformação
O populismo de Trump simplifica problemas complexos e aposta em narrativas de inimigos externos e traições internas:
Blinda a si mesmo e seus aliados com discursos de "caça às bruxas" e “deep state”.
Recorre a dados distorcidos para justificar medidas econômicas fracassadas.
Coloca instituições sob suspeita — do Federal Reserve ao sistema judiciário.
Análise:
Esse tipo de política é perigosa porque mina a confiança nas instituições, polariza a sociedade e enfraquece a coesão nacional — tudo o que um país precisa evitar diante de um novo cenário geopolítico multipolar.
4. O paradoxo da hegemonia: resistir à mudança ou liderá-la?
Ao tentar segurar a hegemonia com mão de ferro, Trump revela uma postura de resistência à inevitável transição global.
Os EUA poderiam estar liderando a transformação para um mundo multipolar — mas insistem em travá-la.
A retórica de Trump não promove inovação, apenas tenta preservar uma ordem ultrapassada.
Conclusão
O “desespero” de Trump traduz-se em uma política de curto prazo, baseada no medo e na força bruta — sem diálogo com a complexidade do cenário atual.
Se os EUA seguirem por esse caminho, podem perder exatamente o que Trump diz querer preservar: liderança, influência e relevância global.
É uma ironia histórica: ao tentar “fazer a América grande de novo”, Trump pode estar contribuindo para o seu declínio como potência global dominante.
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